Ejaculação precoce

Causa psicológica ou orgânica?

Por Dr. Paulo Rodrigues

A ejaculação rápida (ou indesejadamente precoce) ficou muitos anos sem ser pesquisada ou tratada, pela falta de entendimento de suas causas.

A verificação de que o uso de bloqueadores serotoninérgicos – SSRI – inibidores de recaptação de serotonina; promoviam retardo na ejaculação durante o ato sexual ou masturbação, revelou de maneira clara que tais distúrbios, até então creditados como tendo origem psicológica; eram na verdade um distúrbio do eixo neuronal-sensitivo.

Antes disto, pacientes com queixas de ejaculação precoce se utilizavam de técnicas psico-analíticas e comportamentais para tratar este distúrbio, mas o entendimento de suas causas e o avançar dos tratamentos modificaram este panorama ao se entender que se trata de um problema neuro-somático, onde o tratamento com drogas tem papel fundamental e efetivo, e que os tratamentos comportamentais-psicológicos ajudam, mas poucas vezes solucionam o problema de forma definitiva e eficaz.

Tida inicialmente como resultado de uma “neurose” de conflitos inconscientes, a ejaculação precoce foi e ainda é tratada com psico-terapias, pouco eficazes.

A visão organicista, tipicamente urológica, referia-se à hipersensibilidade da glande, que levou à tratamentos cirúrgicos diversos, tais como o descobrimento da glande pela retirada da pele que a cobre (“fimose”), ou secção do frênulo, com o intuito de minimizar a fricção do dorso da glande, diminuindo assim secundariamente a excitação da glande no ato sexual. 

Como se acreditava que a ejaculação provinha de uma hiper-estimulação peniana, realizou-se também com resultados pífios, a neuropraxia, que consistia em seccionar os nervos na base do pênis, deixando o pênis temporariamente anestesiado, ou melhor dizendo, sem a sensibilidade tátil original. Todas, alternativas pouco ortodoxas ou cientificamente comprovadas, uma vez que estudos da medida da sensibilidade tátil da glande não se mostraram aumentados quando comparados a homens sem ejaculação precoce.

Mais tarde, alguns autores demonstraram que a ejaculação precoce, poderia ser induzida ou aprendida, a partir de manobras de masturbar-parar (“stop & go”), que modificariam o reflexo neuronal original da ejaculação, num espetacular exemplo de neuro-modulação. 

Uma vez modificado o reflexo, o padrão ejaculatório, ou até mesmo excitatório, se consolidaria, passando a ser o “novo” jeito daquela pessoa se relacionar sexualmente.

Trata-se de um aprendizado condicionado, isto é, uma vez repetida diversas vezes, este processo passa a ser o “normal”. Um exemplo prático desta observação pode ser entendida na vivência diária das pessoas que aprendem a escrever uma determinada letra. Vamos dizer, a letra E (e, E, ἐ); e passam a escrevê-la sempre da mesma forma; mas se houver necessidade ou vontade; pode-se modificar o jeito de escrever, e após breve período de treino e condicionamento, torna-se o “novo” jeito de escrever, ficando inconsciente personalizado.

Este conceito de modificação comportamental, ou cientificamente dizendo: neuro-modulação, abriu as portas para a aplicação sistemática e médica de medicamentos que modificam as conexões neuronais envolvidas na ejaculação.

Substâncias inibidoras da recaptação de serotonina retardam a velocidade de re-utilização dos mediadores químicos intra-sinápticos, diminuindo a velocidade de condução dos neurônios.

Na ejaculação, os neurônios são recrutados e excitados de maneira crescente com as penetrações vaginais, havendo uma arregimentação cada vez mais numerosa de neurônios envolvidos com a sensibilidade do pênis, que se excitados ao máximo, atingem um ponto de clímax, “explodindo” na emissão do sêmen – orgasmo.

Pessoas com ejaculação precoce apresentam o período de recrutamento neuronal muito acelerado. 

Não se sabe se em virtude dos neurônios envolvidos na ejaculação já estarem previamente excitados ou se estes mesmos neurônios aprenderam a se excitar com velocidade mais acelerada, o que em qualquer das circunstâncias leva ao clímax (orgasmo) mais rapidamente.

Como saber se estou com ejaculação precoce?

Ainda que muito comum, quando pesquisados; 75% dos homens com ejaculação precoce disseram que nunca relataram o problema por vergonha ou descrença numa solução para o problema.

O estudo deste distúrbio é bastante complexo, por envolver a intimidade do casal, e não raro; o assunto é deixado de lado, agravando o problema, que persiste e se acentua.

Entretanto, para rigor científico, as medidas precisam ser exatas, e não sujeitas à impressões. 

Assim um dos métodos que se utiliza para estudo de casos, baseia-se na marcação em relógio do tempo que o homem leva para ejacular após fazer a penetração vaginal. Este método demonstrou que 80% dos homens com queixa de ejaculação precoce, ejaculam com menos de 30 segundos da penetração vaginal, mostrando que ao contrário do que se imaginava, o distúrbio de ejaculação está marcantemente acelerado, e que não se trata de um problema de minutos, mas muitas vezes de segundos.

Surpreendentemente, o tempo curto de ejaculação não está relacionado com a idade do paciente, nem tampouco com o tempo de convivência ou namoro com a parceira – mais uma vez revelando que o problema não se restringe à esfera exclusivamente psicológica ou de insegurança do relacionamento, mas de um distúrbio cujas razões e raízes ainda não foram claramente entendidas. Mas que tem tratamento!

Mais interessante ainda, o tempo de ejaculação não se correlaciona com o diâmetro do pênis ou grau subjetivo de excitação sexual (emocional ou física), pois as conexões neurológicas envolvidas na ereção, não são as mesmas envolvidas na ejaculação. Assim, embora intimamente conectadas, a ereção pode em casos excepcionais se dissociar da ereção e haver ejaculação, com o pênis flácido, expondo as 2 vias neurológicas, que embora intimamente envolvidas, podem se desconectar no curso da instalação do processo de ejaculação precoce.

Quando se faz a pergunta: 

Você acha que tem ejaculação rápida?

4 a 39% da população responde sim, revelando que uma parcela importante da população masculina, não está satisfeita com seu tempo de penetração vaginal, tornando a ejaculação precoce, o distúrbio sexual mais comum que a própria impotência sexual.

Alguns mitos sobre ejaculação precoce ou rápida.

Muitos mitos circundam a sexualidade humana. 

No que concerne à ejaculação precoce, os homens acreditam que a ejaculação rápida seja resultado do avançar da idade, mas não há estudos ou comprovações que reforcem esta impressão. 

Deve-se ressaltar que a idade acompanha-se de maior dificuldade de permanecer com a ereção plena mais prolongadamente, fazendo com que muitos homens, inconscientemente; acelerem seus padrões de excitação e penetração vaginal, por receio de perder a ereção firme, capaz de permitir a penetração vaginal. Assim, acelerando o ritmo sexual, o ciclo sexual; ou melhor dizendo, a ejaculação torna-se mais precoce, mas sem caracterizar efetivamente uma ejaculação precoce patológica.

Enfatiza-se, que um dos primeiros sinais da impotência sexual que começa a se instalar em cerca de 65% dos casos, é a ejaculação rápida, pelos motivos descritos acima.

Tratamentos

Tendo havido um consolidado reconhecimento de que a ejaculação precoce é um distúrbio neuronal, que envolve a alteração dos limiares sensitivos dos nervos e/ou das vias envolvidas na ativação da ejaculação, o uso de medicamentos tornou-se a base para o tratamento desta condição.

Utilizando os já mencionados inibidores de recaptação de serotoninas, atinge-se uma vida sexual plena e agradável em pouco tempo. No entanto, por formarem uma gama muito ampla de medicamentos com diversas especificidades, pode haver efeitos colaterais, que precisam ser monitorados e evitados com o ajuste de dose.

Em paralelo a estes novos conceitos, pessoas com ejaculação precoce precisam ter uma avaliação médica especializada, em virtude de outras patologias poderem estar associadas, ou ser a primeira manifestação de outras doenças, nas quais o uso desta classe de medicamentos, poderá retardar o diagnóstico apropriado.