por Dr. Paulo Rodrigues
Coincidência ou não, a partir dos 35 anos, todos os homens estarão condenados a enfrentar o crescimento da próstata. Evento regular, certo e inescapável do avançar da idade, muitas vezes se faz acompanhar de outra alteração no alto da cabeça, que se soma à “idade da razão”.
As entradas acentuadas na testa, que prenunciam a calvície, marcam as transformações da idade.
O que muitos não sabem, é que existe um paralelo genético entre o crescimento da próstata, os hormônios masculinos e os padrões de calvície.
Há quase 100 anos se reconhece que existe relação entre o crescimento da próstata e a testosterona, justificando em alguns casos a castração cirúrgica, como forma de diminuir os níveis de testosterona e por conseqüência o volume da próstata.
O efeito proliferativo e a manutenção da vitalidade celulares promovida pela testosterona; se dá quando a testosterona deixa o sangue e passa pela membrana celular, sendo convertida pela enzima 5-α-redutase em di-hidrotestosterona (DHT); esta última muito mais potente que a própria testosterona. Já no núcleo celular, a DHT e seu receptor ligam-se às espirais de DNA, acelerando a produção de proteínas e reprodução de células, causando o efeito e hipertrofia e retardando a morte celular – Efeito desejado pelos halterofilistas!
Substâncias que inibam a enzima 5-α-redutase desaceleram o efeito anabolizante da testosterona, embora mantenham normais os níveis de testosterona no sangue.
Os homens que apresentam “entradas” proeminentes na testa e nas têmporas, são os pacientes que sofreram maior exposição intra-útero à testosterona, enquanto aqueles com muito cabelo na fronte, frequentemente apresentam deficiência da enzima 5-α-redutase e raramente têm crescimento prostático.
Ao se descobrir que a inibição da enzima não só diminuía o volume da próstata, mas que também estimulava o crescimento de novos folículos pilosos enquanto resgatava os atrofiados no couro cabeludo, faltou um passo para que o medicamento desenvolvido para a próstata também fosse utilizado para tratar a calvície. Entretanto, poucos reconhecem as limitações e perigos da utilização deste remédio, sem acompanhamento médico.
Como mencionado, o bloqueio da conversão de Testosterona em DHT, promove efeitos indesejáveis e muitas vezes irreconhecidos:
- Diminuição da fertilidade
- Diminuição da libido sexual, mas não da qualidade da ereção
- Diminuição do volume ejaculado
- Fraqueza muscular
- Perda da massa muscular magra
- Osteoporose
- Aumento da incidência de câncer de próstata de alto grau (ainda há controvérsia sobre este tema)
- Alteração nos níveis de PSA
- Ginecomastia
- Aumento da pilificação, sobretudo no couro cabeludo
Dentre os efeitos mencionados, cabe discutir mais profundamente a relação de câncer de próstata e o uso de finasteride.
Em nossos dias, a melhora nos índices de cura e sobrevida dos pacientes com câncer de próstata se deu sobretudo, devido à conscientização populacional para o tema, levando mais homens a fazer o exame prostático de maneira regular; mas sobretudo pela utilização estratégica do PSA, que é um sinalizador importante para doenças da próstata, facilmente obtido com exame simples de sangue.
Enquanto o padrão de distribuição de pêlos e cabelo no corpo obedece à padrões genéticos e à sensibilidade dos receptores androgênicos à testosterona; pode-se ter uma idéia da densidade de receptores androgênicos no couro cabeludo, ao se verificar como a calvície se instala progressivamente. Como as células da próstata, seu crescimento e o câncer de próstata guardam íntima relação bioquímica com os níveis de testosterona não seria surpreendente se observar que os padrões de calvície guardassem alguma relação com o aparecimento do câncer de próstata.
Recentemente, observou-se que determinados tipos de calvície estariam associados à maior chance de desenvolver câncer de próstata, por expressar no couro cabeludo esta tendência.
Desta feita, utilizar finasteride sem acompanhamento médico especializado e afeito com os efeitos adversos associados significa tratar a vaidade, podendo mascarar a chance de detecção precoce do câncer de próstata, ao se esquecer que a vida é o bem maior.