por Dr. Paulo Rodrigues
Uma das doenças mais associadas à Bexiga Hiperativa é o Diabetes mellitus.
O descontrole glicêmico pode acarretar um desbalanço micro-neuronal (neuropatia diabética), que em alguns pacientes manifesta-se primariamente, e com mais intensidade nos órgãos abdominais.
Como a bexiga é um órgão que funciona todo o tempo, requerendo uma acalmia no momento de armazenar urina; e um ação voluntária no momento de expeli-la, pequenas alterações ou desbalanços no seu funcionamento, podem trazer sintomas urinários.
Similarmente, a síndrome metabólica, caracterizada por aumento de colesterol, triglicérides e ácido úrico, que afeta cerca de 23% da população adulta (Ford ES et cols. Prevalence of the metabolic syndrome among US adults: findings from the third National Health and Nutrition Examination Survey. JAMA 287: 356, 2002); também apresenta estreita correlação com a Bexiga Hiperativa.
Aparentemente, o Diabetes mellitus e a Síndrome metabólica obstruem os vasos sanguíneos microscópicos, inclusive dos nervos, levando a uma desordenação do funcionamento da bexiga, o que provoca espasmos vesicais incontroláveis,algumas vezes com perdas urinárias involuntárias.
Num estudo epidemiológico, Rohrmann relatou que os sintomas urinários de acordar à noite, ter sensação de esvaziamento incompleto da bexiga, jato fraco, e urgência para urinar, era mais comum em pacientes com síndrome metabólica e diabetes (Rohrmann S et cols. Association between markers of the metabolic syndrome and lower urinary tract symptoms in the Third National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES III). Int J Obes 29: 310, 2005).
Outro estudo com 1359 pacientes com diabetes 22,5% relataram sintomas de Bexiga Hiperativa (urgência para urinar e/ou aumento da frequência para urinar durante o dia e a noite). Interessante, demonstrou-se neste estudo, que metade dos casos tinha urgência para urinar, mas com perdas involuntárias, isto é tinham “escape” de urina quando a vontade de urinar se manifestava (Liu RT et cols. Prevalence of Overactive Bladder (OAB) and associated risk factors in 1,359 patients with type 2 diabetes. Urology 2011; 78: 1040, 2011).
Estudos com animais induzidos a terem dibetes mellitus, revelou que num primeiro momento, a instalação do diabetes leva á uma modelação da musculatura da bexiga; isto é, a bexiga compensa-se, de maneira a que seu funcionamento não fica prejudicado. Entretanto, mais tarde, esta “compensação funcional” desaparece, e os sintomas ficam permanentes, e mais difíceis de controlar.
Como o evoluir desta condição alguns pacientes desenvolvem uma “anestesia” na bexiga, devido à micro-angiopatia, levando a retardo da percepção da bexiga cheia. Este processo, se não tratado precocemente, tende a dilatar a bexiga de maneira irreverssível – Hipotonia Detrusora (Nobe K et cols. Alterations of glucosedependent and -independent bladder smooth muscle contraction in spontaneously hypertensive and hyperlipidemic rat. J Pharmacol Exp Ther 324: 631, 2008).