por Dr. Paulo Rodrigues
Incontinência urinária decorrente de risadas parece constituir uma forma individual de perdas urinárias involuntárias. Muitas vezes, o início das perdas urinárias começa com uma risada, mas as perdas tornam-se incontroláveis, e a quantidade de urna passa a não ser apenas a de “algumas gotas”, mas de todo volume dentro da bexiga.
A causa exata, deste caso ímpar de perdas urinárias, ainda não está estabelecida, mas parece que a contração da bexiga ocorreria, por um curto circuito neurológico entre os mecanismos de controle da bexiga e dos nervos envolvidos no controle da musculatura que incitam uma gargalhada.
Como existem vários tipos de risadas, algumas movimentam mais especificamente alguns grupos musculares do que outras; e a ativação específica destes, pode ativar a inervação da musculatura vesical, relaxando-a e provocando perdas involuntárias de urina.
Glahn num estudo com estudantes de enfermagem relatou que cerca de 25% das jovens enfermeiras relataram algum grau de perda urinária, quando ativamente estudadas (Glahn BE. Giggle incontinence (enuresis risoria). A study and an aetiological hypothesis. Br J Urol 1979;51:363e6).
Os primeiros casos foram descritos por um urologista Britânico, que relatou alguns poucos casos, dado a raridade da doença, estabelecendo uma causa neurológica para as perdas urinárias.
Argumenta-se que existiriam mecanismos ativados de relaxamento muscular do esfíncter quando os mecanismos cerebrais ativados para a risada fossem acionados. Este processo, muito particular em algumas pessoas; causariam uma perda do tônus muscular, facilitando a perda urinária. Alguns autores chegam mesmo a colocar esta situação como uma minúscula crise de epilepsia, que deflagraria as perdas urinárias, desde que se verificou que a prevalência de epilepsia tratada nestas pessoas, é maior que na população geral.
Outras hipóteses argumentam que haveria um desbalanço neuronal, com inundação de acetilcolina cerebral que estimularia uma rápida recaptação sináptica excessiva, resultando em atonia muscular, à semelhança de uma catatonia. Durante risadas prolongadas, a resposta emocional provocaria uma inundação colinérgica, promovendo a mesma rápida recaptação sináptica, levando á uma atonia esfincteriana e/ou do assoalho pélvico, com perda urinária secundária.
Tratamento
O tratamento da incontinência urinária com risadas é variado e diverso, devido às várias hipóteses fisio-patológicas da origem da doença.
A utilização de terapias comportamentais que utilizam aparatos de inibição da risada – como pequenos choques, mostraram-se eficazes, mas pouco fáceis de usar.
Técnicas de biofeedback com contração da musculatura do assoalho pélvico durante as risadas também podem ser aprendidas ou ensinadas para se evitar as perdas urinárias provocadas pelo relaxamento uretral que ocorre no momento do riso.
Anticolinérgicos, anticonvulsivantes e metilfenidato foram também utilizados com resultados variados após se demonstrar que os receptores dopaminérgicos localizados na área pré-frontal, ou no centro pontino da micção funcionariam como inibidores do relaxamento da musculatura do assoalho pélvico.