por Dr. Paulo Rodrigues
O sexo é determinado sobretudo pela carga genética cromossômica; a saber: XX, na formação de mulheres e XY para homens. Entretanto, na quase ausência da ação de hormônios, o desenvolvimento do feto penderá fortemente para o sexo feminino. É a ação da testosterona que determinará a trasnformação da genitália para o lado masculino, desenvolvendo o escroto e o pênis, das maneiras habituais.
Outras características que também determinam a diferenciação sexual, chamadas de características sexuais secundárias, também são deteminantes na diferenciação entre os sexos. Uma destas diferenças diz respeito ao aspecto da genitália, que é particular a cada pessoa.
Esta diferença é detereminada pelo grau de exposição da genitália do feto aos hormônios maternos, sofrendo nova alteração e reforço na época da adolescência, quando a produção interna de hormônios (masculino ou feminino) desenvolverá a genitália de maneira definitiva, para uma vida sexual ativa.
Este complexo processo de transformação, reforçado na adolescência, determinará a forma, aparência e tamanho dos órgãos sexuais.A variação é grande! (Lloyd Jet cols. BJOG 112: 643, 2005).
E aumenta ainda mais, se considerarmos que os receptores androgênicos – sensíveis à ação da testoterona; apresentam grande variação de pessoa para pessoa – polimorfismo genético, tornando-a mais ou menos sensível ao hormônio. Em outras palavras, ainda que 2 mesmas pessoas recebam a mesma dose do hormônio, as respostas serão diferentes em virtude da variação da resposta do receptor à testosterona.
Comparação Estrutural das Genitálias Feminina e Masculina
A estimulação sexual permite que uma grande quantidade de sangue “encharque” o tecido erétil, chamado de corpo cavernoso, dando consistência erétil ao pênis e enrijecendo o clítoris.
Embora muito mais desenvolvidas nos homens do que nas mulheres, os corpos cavernosos que formam o pênis e o clítoris, se assemelham muito mas obviamente são muito mais desenvolvidas nos homens. Embora bastante diferentes na vida adulta, na fase intra-útero as estruturas são comuns aos 2 sexos, desenvolvendo-se sob estimulação hormonal androgênica em fases mais avançadas do desenvolvimento fetal. Assim numa análise rápida, pode-se dizer que a glande e o corpo peniano guardam semelhança com o clítoris feminino, e que os grandes lábios correspondem à bolsa escrotal (“saco”) no homem.
Correspondência das Estruturas Genitais nos Sexos Masculinos e Feminino
- Glande → Cabeça do Clítoris
- Haste do Pênis → haste do Clítoris
- Grandes lábios → Bolsa escrotal (saco)
Mulheres mais expostas ou sensíveis à testosterona em fases críticas deste complexo desenvolvimento genital, podem apresentar maior desenvolvimento dos pequenos ou grandes lábios vaginais. Estas alterações podem se acentuar por ocasião da gravidez em decorrência da preparação para o parto provocando flacidez e alteração da coloração da genitália. Algumas vezes de maneira irreverssível e esteticamente inconveniente.
Em outras vezes, as características primárias da formação da vagina e dos lábios vaginais, permitiram que os grandes lábios se desenvolvessem mais acentuadamente, desfigurando a aparência estética da genitália.
Mas isto pode ser revertido!
Tipos de Genitália e Correções Cirúrgicas
Em virtude da sensibilidade do tecido genital aos hormônios as formas dos grandes lábios podem variar.
Também contribui para esta variação de aparência a concentração de gordura na genitália, deformando-a ou dando o aspecto lipomatoso algumas vezes, o que pode causar grande constrangimento a auto-estima e imagem corporal.
Tipos de Vagina
Devido à sensibilidade do tecido genital aos hormônios e às características próprias de acumulação de gordura, a genitália pode assumir diversas formas distintas.
Pequenos lábios excedentes aos grandes lábios vaginais no capuz clitoriano – Pequenos Lábios Hipertróficos ou Protruídos
Pequenos lábios MUITO excedentes aos grandes lábios – Pequenos Lábios Hipertróficos ou Protruídos
Grandes lábios abertos que permitem exposição dos pequenos lábios excessivos
Anatomia Clitoriana
Semelhantemente ao pênis, o clítoris é consituído de tecido erétil preso aos ossos púbicos, com capacidade de se encher de sangue quando há estimulação tátil direta. Constituído de 2 partes iguais de cada lado do osso púbico, encontram-se na linha mediana da genitália, exteriorizando-se de maneira tênue para formar o botão externo de excitação chamado de clítoris, à semelhança com o seu conrrespondente masculino, representando pela glande peniana.
Se antes pouca atenção era dada à anatomia clitoriana e à vida sexual feminina, estudos contemporâneos da anatomia do clítoris demonstram claramente, que há nítida semelhança com a anatomia peniana, sendo possível se afirmar que “ o clítoris é uma versão miniaturizada do pênis, ainda que totalmente separada da uretra” (Williams PL ET cols. Gray’s Anatomy . 38th ed.. New York: Churchill Livingstone; 1995).
Disfunções Sexuais Femininas – Excesso de Prepúcio Feminino
Ainda que a sexualidade feminina seja extremamente complexa, contornada por inferências sociais e culturais pessoais, reconhece-se hoje que algumas podem ter dificuldade para atingir o orgasmo motivada pela cobertura excessiva do tecido erétil feminino – o clítoris.
Como a porção mais exteriorizada do aparelho sensitivo sexual feminino, chamado “broto do clítoris”; não apresenta tecido erétil, mas somente intensa e densa concentração de tecido nervoso, com grande capacidade sensitiva de tato protopático e vibratório conduzidos pelos corpúsculos de Paccini; o mínimo toque provoca inensa reação sensitiva na genitália.
Nestas circunstâncias, a exposição cirúrgica do tecido erétil tumescente, pode proporcionar melhora expressiva das sensações orgásmicas e seu respectivo prazer, facilitada pela descoberta e maior exposição do tecido à fricção do ato sexual.
Panorama das Cirurgias Plásticas Genitais
Não há um número preciso sobre a quantidade de cirurgias realizadas, pois como se poderia prever; a privacidade é muito importante para estas mulheres; e poucas pacientes discutem abertamente o assunto ou relatam que fizeram, ou que gostariam de fazer a cirurgia.
No entanto, um dos poucos artigos científicos publicados sobre este aspecto revela que 60% das pacientes procuram a cirurgia para satisfação pessoal e melhora da auto-estima (British Journal of Obstetrics and Gynaecology (BJOG)).
Motivado pelos bons resultados ou pela segurança das técnicas, um grupo privado inglês registrou aumento de 500% nas cirurgias íntimas nos últimos 5 anos conforme fonte da BBC – UK.
Muitas das pacientes pesquisadas relataram desconforto nas relações sexuais devido ao aumento dos lábios vaginais após parto vaginal, que não retornaram ao normal.
Outra pesquisa, desta vez não-científica; revelou que 43% das 9.216 mulheres pesquisadas, fariam uma cirurgia genital rejuvenescedora se pudessem (Aitkenhead D, 2005; Most British women now expect to have cosmetic surgery in their lifetime. How did the ultimate feminist taboo become just another lifestyle choice? The Guardian).
A redução dos pequenos lábios, que ultrapassam as dimensões dos grandes lábios, é a queixa mais frequente entre as mulheres que se sentem incomodadas.
Embora não exista um padrão que se possa chamar de normal, estas mulheres quando pesquisadas, relataram que gostariam de ter os pequenos lábios não-protruídos para além dos limites dos grandes lábios, considerando isto, a anatomia “normal” e desejada.
A cirurgia pode retornar a aparência da genitália nos níveis pré-adolescência, quando os pequenos lábios, frequentemente estão inseridos, e não protruídos; limitando-os para dentro da vulva.
Entretanto, os padrões de normalidade variam de acordo com as inferências pessoais e culturais, apresentando variações regionais muitas vezes ditadas pela exposição midiática do nu feminino, que varia conforme o país e a língua.
Porquê as mulheres procuram a Plástica Genital
A percepção de anormalidade, em qualquer parte do corpo, provoca uma procura pelo reestabelecimento daquilo que lhe parece normal e bonito.
Como citado, a demanda por plástica genital tem crescido muito nos últimos anos.
Embora praticamente restrita à prática médica privada, acredita-se que o aumento da demanda irá pressionar a criação de serviços de cobertura pública.
A redução dos pequenos lábios é a razão mais frequente entre as mulheres que procuram a plástica genital. Ditado por necessidade física, onde o excesso de pequenos lábios ou vulva dificultam uma vida sexual plena, ou motivado por aspectos psicológicos emocionais, os pequenos lábios excessivos podem ser um transtorno à paciente, dificultando até mesmo a higienização genital.
Entretanto, a principal razão para a procura por tratamento cirúrgico parece ser a aparência e desconforto para se usar roupas femininas ou esportivas, reduzindo seu bem-estar e interação sociais.
Embora não exista um padrão primário de aparência “normal” da genitália feminina, a maior exposição do corpo e a percepção da existência da genitália nos outros, aumentou a percepção da existência desta parte do corpo.
A necessidade cultural e contemporânea da aparência juvenil da genitália, em que os pequenos lábios são completamente encobertos pelos grandes lábios, justifica a procura por tratamento cosmético. Entretanto, as medidas dos pequenos ou grandes lábios, assim com as desproporções, podem de fato se tornar um problema, para além da necessidade cosmética, sobretudo em pacientes que ganharam ou perderam peso.
Neste pormenor, o acúmulo de gordura na genitália é processo lento e difícil de reverter, pois o emagrecimento global do corpo não se expressa na mesma proporção na genitália, sendo mais difícil emagrecer na genitália do que no resto do corpo.
Pacientes esportivas, com perfil atlético, podem se sentir coibidas de usar roupas justas ou esportivas (“fitness”), pela exposição de uma genitália mais aparente. Similarmente, o uso de roupas íntimas pequenas e mais justas podem também serem desconfortáveis, nas situações em que a genitália não cabe nelas.
Ainda que possa parecer um excesso, a maior busca pelo tratamento cirúrgico também expressa uma maior maturidade sexual e alinhamento com a procura de melhor contorno físico.
Um dos poucos estudos médicos sobre o assunto, relata que 87% das mulheres que procuraram um profissional especializado em cirurgia para plástica genital, recebeu a recomendação para fazer a cirurgia de seu clínico geral ou de seu ginecologista após mostrar ou queixar-se sobre a aparência da mesma (Crouch NS et cols. BJOJ, 2011).
Mais frequentemente hoje, muitas mulheres jovens depilam-se quase ou totalmente os pêlos púbicos, deixando a genitália mais exposta e aparente em ambientes comuns ou francamente expostos, como em piscinas e praias.
Resultados da Labioplastia Genital
Toda cirurgia funcional ou cosmética precisa ter uma análise realista dos resultados, desacalentando qualquer expectativa fantasiosa.
Neste contexto, algumas pesquisas médicas dão uma noção realista dos resultados subjetivos obtidos em pacientes operadas.
Na série de Rouzier et cols. com 163 casos, 87% das mulheres relataram que operaram motivadas pela aparência inapropriada de suas genitálias. Associadamente, 64% das mulheres também relataram desconforto com as roupas, e 43% referiram desconforto ou dor nas relações sexuais. Quando avaliadas 30 dias após a cirurgia, 89% das pacientes relataram estarem satisfeitas ou muito satisfeitas com a aparência, enquanto 93% aprovaram o resultado sexual e funcional (Rouzier R et cols. Hypertrophy of labia minora: Experience with 163 reductions. Am J Obstet Gynecol 182: 35, 2000).
Outro estudo avaliou as pacientes entre idades de 14 a 64 anos, que desejavam redução dos pequenos lábios por motivos variáveis, ainda que a maioria referenciasse a cirurgia por motivo estético (Cayrac M et cols. Evaluation of lábia minora reduction by longitudinal resection. Gynecol Obstet Gynecol 40: 561, 2012). Quando questionadas após 30 dias da cirurgia, 95% responderam estar satisfeitas com o resultado funcional, mas 100% gostaram do resultado cosmético final.
Razões Sexuais para Plástica Vaginal
Embora muitas mulheres possam confundir os significados de plástica dos lábios vaginais e plástica vaginal, deve-se entender que a aparência da genitália, compreende somente as formas e tamanhos dos lábios vaginais, enquanto a vagina propriamente dita; constitui-se num canal inteiramente interno e não aparente.
Entretanto, algumas mulheres podem se sentir vulneráveis pela forma que a vagina assume, após terem partos vaginais ou mesmo gravidezes repetidas.
A lassidão/frouxidão progressiva que a musculatura pélvica experimenta ao longo dos 9 meses, em preparação para o parto vaginal, modifica substancialmente a tensão das fibras musculares e tensões das fáscias musculares da pélvis, impondo modificações estruturais que nem sempre retornam aos níveis anteriores à gravidez.
Além disto, algumas vezes, o parto vaginal, sobretudo com Fórceps, pode lacerar definitivamente a musculatura perineal, modificando permanentemente as sensações sexuais.
Estas modificações trazem queixas e insegurança nas relações sexuais.
A reconstituição anatômica por meio da aproximação dos planos musculares e fasciais, previamente identificados como rompidos, reconstituem a anatomia do canal vaginal, adequando o diâmetro aos padrões anteriores à gravidez e reestabelecendo a aparência cosmética da genitália e sua função.